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O esteriótipo bissexual-não-praticante ou Como identidade e prática não são a mesma coisa – I parte

Larry King perguntou em uma entrevista à atriz Anna Paquin se ela não era uma bissexual não praticante, já que está em uma relação monogâmica com um homem. Chegou a perguntar se não tinha sido bissexual, como se casar transformasse a pessoa em casada e ex-bissexual, como se ser bi fosse ser solteira pra poder ser. É a única orientação sexual algemada ao estado civil, já repararam?


Pra sorte nossa, Anna Paquin, como já dito no post anterior, não tira o corpo fora e nos visibiliza de maneira realista, ainda que em primeira pessoa, o que mostra apenas seu tipo de experiência (branca, cis, famosa, mãe e casada com um homem cis), é uma maneira de mostrar que bissexuais não só existem como existem fora dos modelos irracionais compartidos pela maioria. Coisas simples como o fato de casamento não ser um gerador de ex-bissexuais e que a idéia de bissexual-não-praticante é no mínimo estúpida, fruto de mentes burras que sequer pararam pra pensar antes de sair falando qualquer coisa.


É questão de pensar um pouquinho fora da caixa monossexista, não pode ser tão difícil assim, talvez contra-intuitivo, mas até pensar que o planeta Terra tá girando o tempo todo a alta velocidade é contra-intuitivo e ninguém se anima a contestar. O que vocês precisam, de um batalhão de cientistas que provem que continuamos sendo bissexuais depois do casamento? Que se façam fórmulas matemáticas e experimentos controlados em laboratório para detectar bissexualidade? De verdade parece algo tão difícil de acreditar?


Já que tem que desenhar então vamos lá. Bissexualidade é uma orientação sexual, e mais que isso, uma identidade. Ambas as coisas podem mudar e nenhuma delas muda inexoravelmente por causa de um relacionamento monogâmico. Orientação é um conceito vetorial, apontar em alguma direção, não o movimento de ir até um lugar ou outro, não a prática de transar ou não com essa ou aquela pessoa. Se fosse assim, as pessoas homo e heterossexuais só o seriam enquanto estão em um relacionamento com alguém, e durante o tempo de solteirice absoluta seria homo e hétero não praticante, ou talvez simplesmente seriam assexuais. Não tem sentido, né? Pois é… É o que a Anna Paquin e todos nós o tempo todo tentamos explicar, mas tá difícil. Estado civil não muda orientação sexual. Assim de simples.

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