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Foto do escritorDani Vas

Setembro: amarelo e roxo

Atualizado: 1 de out. de 2020

Dani Vas é psicólogue e militante bissexual



Setembro é um mês intenso quando você é bissexual. O dia 23 marca o dia internacional da visibilidade bissexual, um dia histórico de luta e de celebração. E setembro é também o mês da prevenção do suicídio, o Setembro Amarelo, marcado pelo dia 10 com a luta no combate ao suicídio. Enquanto alguém poderia pensar que são apenas dois eventos grandes que por acaso ocorrem no mesmo período, chega a ser cômico o quanto a visibilidade bissexual e o Setembro Amarelo têm em comum.


Vivemos repetindo que, dentre as orientações sexuais, pessoas bissexuais são as que apresentam os piores indicies de saúde mental, considerando ansiedade, depressão e, também, taxas de suicídio. Isso quando comparado com héteros, gays e lésbicas, o que já é bastante gente, mas é bem possível que pessoas assexuais estejam bem perto de nós, bi. E o que se apresenta como bastante peculiar é que tantas pessoas se dizem mobilizadas pela campanha de prevenção ao suicídio, mas não só elas não pesquisam quais são os melhores jeitos de oferecer apoio de maneira segura, como também não prestam atenção às causas do suicídio.


Na maior parte das vezes, suicídio fica associado com depressão, num imaginário de que a pessoa vai perdendo a vontade de viver e, por conta disso, cometem suicídio, quando a realidade é mais complexa do que isso. Pouquíssimas pessoas que tentam o suicídio de fato querem deixar de viver. A maioria delas inclusive nem quer morrer. O que acontece é que na maior parte das vezes a dor é tão grande, tão insuportável, que ao se somar a falta de referências e estruturas que mantenham uma pessoa firme para seguir na vida, a morte é o único caminho que se torna possível de se seguir.


É nessa perspectiva olhamos a importância de como estão a vida das pessoas bissexuais, o que significa que enfrentam os piores índices de saúde mental. É essencial entendermos o nível de violência e vulnerabilidade que enfrentamos. Sofremos violência física, abusos de todos os tipos, abandono de relações e relacionamentos importantes, além de ataques institucionais. A comunidade LGBT+, que deveria ser nosso porto seguro, é comunidade somente na Parada LGBT+, e mesmo assim não muito. Vale lembrar que desde 2018, quando surgiu o Bloco BiPanPoli, em São PAulo, nós somos sumariamente ignorados quando reivindicamos maior apoio da organização da Parada, que nem ao menos disponibilizam recursos para fazer um cordão, quem dirá um trio elétrico nosso.


Precisamos de políticas públicas que cuidem das nossas demandas e necessidades. Precisamos de atendimento psicológico seguro e acessível, com a garantia de que não sofreremos mais uma vez ataques bifóbicos em consulta, ou que então tratem nossa bissexualidade enquanto sintoma de algum transtorno psicológico. Precisamos de apoio institucional, que garanta nossa segurança quando nossa vulnerabilidade for explorada e nossa vida esteja em risco. Precisamos fortalecer nossa rede de apoio e ter certeza que não estamos sozinhos lidando com nossos problemas.


Se pensarmos que uma pessoa opta pelo suicídio por não ter mais referências que façam sentido e nas quais ela pode se apoiar para se manter viva, quais são as referências bissexuais que nós temos? Somos estigmatizados, tratados como infiéis, promíscuos, traiçoeiros, confusos, vetores de IST, homossexuais enrustidos ou heterossexuais querendo chamar atenção. São essas as referências que temos que nos apoiar para não optar pelo suicídio?


É preciso oferecer mais do que uma caixa de mensagens aberta para garantir que seu amigo não morra. Precisamos de engajamento comunitário, que nossa imagem pare de ser reproduzida de forma tão negativa. Em setembro, lembramos que somos visíveis e que temos que tomar muita atenção quando o assunto é suicídio. Mas algo que a maioria das pessoas esquece é que bissexuais existem e resistem todos os dias, e que também são todos os dias que devemos lutar pela prevenção do suicídio. Nossos problemas não surgem e nem desaparecem no mês de setembro.


E no que diz respeito a nós bissexuais, é preciso darmos vários passos além em nossa militância, se entendemos que precisamos urgentemente mudar o cenário no qual estamos inseridos. Chegou o momento de parar de falar quais são as diferenças entre bi e pansexualidade e, enfim, de começar a criar estratégias de como nos fortalecer e lutar para que a estrutura da sociedade mude. Bifobia e monossexismo são pautas maiores do que simplesmente as definições que usamos para nos definir tal e tal identidade. Já temos essa pauta resolvida, é hora de lutarmos para algo maior.


Nossa luta é todo dia, não nos esqueçamos nunca disso.


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Caso você esteja cogitando suicídio, ou está com a preocupação de que alguém próximo esteja, procure ajuda! O Bi-Sides oferece uma lista de terapeutas capacitados para atender pessoas bissexuais, que você pode conferir aqui. Procure também o CVV ligando no número 188. Outras instituições que oferecem tratamento psicológico gratuito ou a preço simbólico podem ser conferidas nessa lista. Procure ajuda, não lide em solidão com seu sofrimento!

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