Crescer é difícil. Quando percebemos que olhamos para os coleguinhas do mesmo gênero de forma diferente a coisa já é escandalosa: “Meu Deus! Eu sou gay. E agora?” Todos sabemos que a vida de pessoas não-heterossexuais é difícil — quando não apanhamos em casa, apanhamos na rua. Entretanto, existe algo para te nortear: você é isso. Você sabe. Você pertence a algum lugar, você tem uma identidade à qual se virar e pode arranjar amigos que te aconselhem para superar o que será uma vida de muita opressão, muito julgamento.
Nós, no entanto, crescemos com sentimentos considerados conflitantes até mesmo entre pessoas de “mente aberta”. Nos atraímos afetiva e sexualmente por pessoas de mais de um gênero. Isso pode acontecer em diferentes formas e intensidades. Nós sentimos — nós somos. Lá está.
E também não está.
Nem isso, nem aquilo. Meio-termo. Indecisos. Confusos.
Tanto nos é imposto que nossa orientação sexual é suja, ruim e carregada de estigmas que absorvemos esta ojeriza à bissexualidade e nos recusamos a nos identificarmos com este termo: subitamente ele se torna desimportante, um rótulo, uma coisa com a qual não queremos ser relacionados. Afinal, não estamos numa fase; não estamos confusos; não queremos aparecer; nós somos reais, existimos, sofremos e queremos ser incluídos. Mas, ah!, a bissexualidade não nos deixa fazer isso, ela não nos representa, então… então nós “gostamos de pessoas”. Nós rejeitamos ser qualquer coisa.
Porque ser bissexual, nós fomos ensinados, não é bom.
Por exemplo: homossexuais são considerados pessoas promíscuas — um termo criado para cercear a liberdade sexual das pessoas — pela sociedade heteronormativa, e isto é entendido como um preconceito e desconstruído diariamente pelo movimento ALGBTQI+. Bissexuais o são mesmo dentro deste espaço — que é, supostamente, seguro. Nós, quando lembrados, somos as pessoas que não conseguem manter um relacionamento. Infiéis e desonestos, sempre terminaremos “trocando” o parceiro. Um conceito bifóbico e mononormativo que não parece incomodar ninguém.
É contraproducente para um movimento tão invisibilizado, para identidades tão rejeitadas, uma pessoa recusar fazer coro e dar voz às nossas demandas. Mas é preciso entender que existe todo um mundo heterossexista e bifóbico nos empurrando na direção contrária: se ser homossexual é errado, bissexual não é sequer uma opção disponível. Não existe histórico e exemplo bissexual acessível na mídia e nas artes. É uma palavra silenciada.
Quando vemos pessoas ecoando este discurso ficamos com raiva, mas o diálogo e a compreensão são a única alternativa correta e não-culpabilizante, pois estamos tão acuados e sozinhos que qualquer mão amiga disposta a alcançar o interruptor e acender a luz por nós faz uma diferença enorme.
Que sejamos de fato um movimento de inclusão, pois nos é permitido ser, existir, resistir. Pois somos legítimos, não rótulos, e importamos.
Que sejamos a mão amiga de quem precisa.
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